Eu como o ar que está cheio de promessas.
(Hamlet, ato III, cena II)
falar é a marca da separação.
a palavra não é desejada
se há sangue para paisagens
passam os olhos o foco que atua
somente um grão: semeia silêncio
resta a pequena luz retida na carne
devorada nos movimentos
a terra que se fecha se abre
infatigável, seu recinto se confunde
ao céu oco e faminto
por lá, nem tanto ao fundo
toda escuridão recua
as estrela são fixas
Este é o meu trabalho
quem há de beber as lágrimas
dos meus olhos?
compartilhar minhas risadas ingratas?
é a cena de nossos gestos
entrelaçados
estamos por baixo
pois quem escreve soterrado
é de uma quietude previsível
ouvi dizer que pessoas culpadas,
quando assistem uma peça,
ficam abaladas com a beleza da cena,
que são levadas a confessar seus crimes em voz alta.